terça-feira, 28 de junho de 2011

Momento de Reflexão – O Teste Silencioso



    Havia em certo local, em uma época indefinida no tempo, uma escola de grande renome e reputação. Ensinava-se lá tudo o que dizia respeito a grandes conhecimentos e verdades, o que para a grande maioria das pessoas estava oculto. Os sábios que lá viviam eram cercados de mistério e prestígio, assim como um profundo respeito por aquelas pessoas que eram tidos até como sobrenaturais por muitos.
    E como o poder nada mais é do que o conhecimento, muitas pessoas que sabiam desejavam conquistar este conhecimento superior e oculto das coisas, mas os sábios eram rigorosos na escolha de seus futuros pupilos e apenas um teste era feito a cada cinco anos e que avaliava a capacidade intelectual assim como a compreensão psíquica. Muitos tentavam, porém poucos logravam êxito.
    O personagem principal de nossa história já era homem maduro e muito introspectivo para época e, repleto de boas intenções, estava decidido a se tornar membro efetivo da instituição de tão alto renome, tanto que para isso vinha se preparando a largos anos sabendo de antemão, que não bastava ler e decorar livros, mas principalmente buscar a compreensão oculta de cada coisa.
    Foi assim que se escreveu para os testes iniciais que foram logo superados por ele com relativa facilidade. O teste final era aberto ao público e era conhecido como o teste silencioso, uma vez que ninguém poderia falar sobre a pena de ser reprovado, e, o que era mais temível, dada a natureza pública do evento, cada prova não podia ser igual.
    Apenas nosso personagem e mais um corajoso jovem foram capazes de chegar ao teste final e lá se encontravam ambos, diante de uma banca de sábios silenciosos como os mortos e atrás o público atencioso e curioso em tentar compreender o que lá ocorria. Vamos achar ambos concentrados e aguardando a convocação para o início do teste silencioso.
    O jovem rapaz que também alcançara a fase final foi chamado primeiro por um sábio, apenas com o movimento da mão, e logo em seguida lhe mostrou o dedo indicador da mão direita apontado para o alto, o jovem refletiu um pouco e apontou o dedo indicador da mão esquerda para o alto copiando a atitude do sábio. O sábio mostrou-lhe dois dedos, o que também foi feito pelo jovem de maneira igual, assim como com o terceiro dedo. O sábio pareceu estar satisfeito e fez o jovem recuar indicando-lhe com a mão para que nosso herói pudesse vir à frente.
    O mesmo foi feito a ele com o dedo indicador, porém depois de refletir um pouco, mostrou-lhe dois dedos em atitude bem diferente da do sábio. Este um pouco que impressionado mostrou-lhe três dedos, no que foi prontamente respondida com quatro dedos, o que mais uma vez surpreendeu o sábio. Por fim, o sábio lhe mostrou cinco dedos e nosso herói lhe apresentou a mão fechada dando por encerrada esta parte com grande satisfação do sábio.
    Um outro sábio então colocou sobre uma mesa repleta de comestíveis e bebidas um grande copo de vidro transparente repleto de água até a boca e chamando o jovem sem emitir qualquer ruído lhe indicou a mesa. O jovem não compreendia bem o significado daquele grande copo repleto de água no centro da mesa e depois de muito pensar escolheu uma das bebidas mais valiosas e adicionou um pouco no grande copo o que fez que algumas gotas escorressem pela borda sendo convidado a abrir espaço com grande cara de reprovação por parte do sábio. Outro grande copo foi posto à mesa repleto de água e convidado pelo sábio a se aproximar, nosso herói meditou por algum tempo no significado daquela cena para grande apreensão da plateia que a tudo assistia aflita, e após decidir-se, afastou-se da mesa vagarosamente parecendo procurar algo, os sábios entreolharam-se como a questionar o motivo de tal atitude. Por fim, nosso herói parecendo ter achado o que procurava voltava com grande sorriso no rosto trazendo uma pequenina flor entre as mãos, e, com muito delicadeza a colocou sobre a água do copo sem deixar que escapasse nada o que foi prontamente aplaudido pelos sábios que apressaram-se a levantar e cumprimenta-lo com grande alegria, deixando o público mais uma vez sem compreender nada.
    Após a parabenização, nosso herói foi convidado a explicar ao público o que havia ocorrido no teste. Ele começou a explicar que o primeiro sábio com o dedo indicador lhe mostraria uma grande verdade, seu colega ao copiar-lhe a posição invertida quis com isso dizer que se espelharia nele com esta verdade e assim foi até a terceira, porém, ele mesmo quis mostrar ao sábio que lhe daria duas verdades ao invés de uma e assim foi até que chegasse a cinco, quando então ele lhe mostrou a mão fechado simbolizando o círculo sem início e sem fim representando o infinito. 
    Sendo em razão disto escolhida a segunda prova em que o copo repleto de água simbolizava a pessoa cheia de conhecimento. Qualquer conhecimento que fosse acrescentado “escorreria” pelo fato de alguém já estar repleto. Foi assim que seu colega perdeu a prova ao tentar acrescentar algo em um recipiente que já estava cheio. Ele preferiu demonstrar com a sua atitude de colocar a flor sobre a água que não veio para acrescentar nada, mas que poderia adicionar a beleza como uma forma de enxergar diferente aquilo que já conhecia.  

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