quinta-feira, 14 de abril de 2011

Momento de Reflexão - O enigma do aço



    Um certo jovem que vivia no oriente em um passado distante, nutria o desejo de ajudar e servir aos pobres, colonos, agricultores, enfim, ao povo que era simples e muitas vezes passava por injustiças. Seus pais então o encaminharam a um antigo templo espiritualista para que pudesse ser instruído e ter a possibilidades de um dia realizar os seus anseios de benfeitor do povo.
    Como era de costume naqueles tempos, o pretendente a ingressar na vida monástica deveria romper com o mundo e ainda vencer os primeiros testes de iniciação que demonstrariam a coragem e a força de vontade do iniciante dos conhecimentos milenares.
    Para este jovem não foi difícil passar pelos testes uma vez que seu caráter impetuoso e destemido muito o ajudou e logo era membro integrante do templo como aprendiz. Durante os primeiros anos ensinava-se muito filosofia espiritualista e artes marciais como é de costume no oriente. Passada a primeira infância, o jovem conseguiu atingir o título de discípulo onde ganhou sua primeira espada verdadeira, sendo assim, reconhecido como homem naquela sociedade.
    Cada vez o jovem se tornava mais eufórico vivenciando antecipadamente em sua imaginação as lutas que venceria em prol dos necessitados tão logo deixasse o título de aprendiz. Treinou durante alguns anos tenazmente, era o melhor espadachim, lia e decorava todos os textos milenares sempre se destacando em sua turma.
    Estava próxima a época em que os mestres avaliavam as turmas para verificar quem estava apto a ser aprovado. Ficou sabendo que para cada turma existia uma avaliação diferente, sendo surpresa para todos como seria o fatídico dia.
    Chegando o tão esperado momento, o jovem que se sentia preparado habilmente para passar, pois sabia todos os textos decorados e venceria facilmente qualquer oponente de sua turma numa luta de espadas, foi chamado a sós para sua surpresa enquanto os outros ficavam aguardando. Diante de um mestre que lhe avaliava, escutou o seguinte: “Tens sido o melhor de sua turma, mas hoje a batalha será vencida apenas pela reflexão. Então me responda meu jovem, diante de tudo o que aprendeu aqui, qual é o enigma do aço?”
    Diante de tal pergunta o jovem se sentiu desarmado, não sabia a resposta, ele e toda a turma foram reprovados tendo que treinar e estudar um ano inteiro por outra oportunidade. Ficou sabendo que eram poucos os que passavam desta fase em outras turmas. Mas não desistiu, e ao final de outro ano, foi submetido a outro teste, em que também errara a resposta. Ele não sabia o que significava o enigma do aço, e mais um ano, seguido de outro e outro, e quase a turma todo já havia desistido.
    Revoltado por não conseguir passar, pegou sua espada e fugiu do templo querendo atender a suas antigas idéias. Rodou pelo mundo conhecido se envolvendo em pequenos dilemas apenas, pois aquela época em que vivia reinava uma paz duradoura entre os povos. Conheceu cidades, aldeias, povoados, e já demonstrava frustração por não conseguir envolvimento em nada realmente grande ou de valor.
    Após perceber que seu tempo ia passando e sendo aconselhado por alguns colegas, resolveu casar-se com uma linda jovem na qual acreditava lhe traria um novo sentido para a vida. Aposentou sua vida de andarilho, construiu um lar, teve filhos e acabou por ter uma vida simples de camponês, o que muito o infelicitava, acostumado que foi a lidar com pessoas instruídas do templo, muito diferente dos rudes camponeses em que foi obrigado a conviver.
    Velho e frustrado pensava ainda nos seus dias de glória quando aprendiz do templo, porque será que nunca soubera responder a maldita questão do enigma do aço? Em nenhum livro ou tratado algo assim foi mencionado. E, certa vez, quando comemorava um aniversário, um de seus filhos lhe trouxe a antiga espada do templo guardada a anos desde sua mudança de vida.
    O jovem que agora era velho apreciava o artefato com cuidado lembrando-se de seus sonhos e qual foi a surpresa quando retirou a arma de sua capa, a espada estava toda enferrujada. O velho começou a chorar convulsivamente sem ninguém entender, pois finalmente entendera o enigma do aço.
    Toda arma, assim como todo conhecimento deve ser posto em prática diariamente. Em exercícios ou atividades, nada deve ficar sem uso. A espada enferrujou por falta de manuseio, e quem neglicencia o que sabe, acaba com o conhecimento enferrujado. 

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